Parati BX o que é isso?

Primeiro vamos definir um ponto importante: o que é Gambiarra? Aparentemente gambiarra é um termo usado inicialmente para definir o gato elétrico. Quando você puxa luz de forma não usual, digamos. Hoje em dia a gambiarra é qualquer solução não convencional para corrigir um problema. Também chamamos carinhosamente de “gambi”. Algumas vezes porque é mais barato, em outras porque a solução correta não é possível e ainda numa terceira via porque o que seria a gambiarra vira o que podemos chamar de engenharia de oportunidade.

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Foi isso, a terceira opção, que a Volkswagen fez com a frente da linha Gol/Parati/Voyage. Acima o Gol BX com sua frente característica.

Em 1980 a Volks lança o primeiro Gol da história, aquele que viria a ser o carro nacional mais vendido de todos os tempos, superando o ícone Fusca. Os projetistas vão buscar inspiração na em outros carros da marca fabricados na Europa, olham para o que já havia no Brasil, e fazem um carro único, que em termos de desenho agradou muito. Na parte mecânica nem tanto.

No Gol a Volks resolveu colocar o motor do Fusca, na frente. Pensem bem e me digam que isso não é uma gambiarra. Já tinham experiência com o Passat, motor frontal refrigerado a água, e preferiram colocar um propulsor que equipava o Fusca há 40 anos, fazendo uma mudança aqui e outra ali. Abaixo o motor da nodds Brasília, Márcio montando. As maiores modificações estão na parte do alternador e radiador de óleo.

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Não creio que fizeram isso pra conseguir lançar antes o carro, visto que o restante da linha saiu apenas dois anos depois. Creio que a ideia era criar uma identificação com o Fusca, ter a possibilidade de usar as mesmas peças do motor e o conhecimento mecânico amplamente difundido. Construir essa ponte quase afundou o projeto.

Carinhosamente ganhou o apelido de Batedeira, graças a vibração apresentada pelo motor, e Bixeira, por conta da versão BX, que era totalmente pelada de acessórios, nem luz de ré a desgraça tinha. Bixeira vem de Bicheira, que é aquela coisa horrível que dá quando uma mosca coloca um ovo dentro de uma ferida e aí nascem as larvas. Vejam que comparação dessagradavel. Hoje todos os Gols com motor a ar são chamados de BX, erroneamente.

No mesmo ano veio a Saveiro, uma pick-up de carga com o mesmo motor aircooled. Desses modelos é o único que existe até os dias atuais. E também havia uma versão furgão do Gol.

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Em 82 vem o restante da família. Voyage e a Parati, respectivamente Sedan e Perua. Com diferenças grandes na motorização e na frente. Faróis maiores, com pisca externos ao lado, grade menor, duas entradas de ar abaixo do para choques, que não tinham mais os piscas integrados e o motor refrigerado a água, o mesmo que vinha no Passat há 10 anos. Essa frente foi inspirada no Scirroco. O Gol todo foi inspirado nesse modelo, que parece maior, mas tem o mesmo tamanho do modelo brasileiro, sendo até mais baixo.

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O Gol foi receber o motor a água apenas em 84 e a fabricação dele com motor a ar seguiu até 86. Abaixo podemos ver a frente nova. Designers usam faróis maiores ou menores para dar impressão de que o carro é maior ou menor. No caso da Parati, quando foi lançada eu acredito que a intenção era que aparentasse ser maior.

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Quando você tira os faróis e a grade da Parati refrigerada a água, o que temos é a mesma frente do Gol refrigerado a ar. Exatamente igual. Falta apenas uma pequena aba de fixação do farol que tem no gol. A diferença está nos faróis. Parati e Voyage tem uma “solução” mais pratica. O farol e o pisca são fixados em uma base de metal que é presa na frente do carro. No BX o farol é fixado diretamente na frente e os piscas no para choque.

A simplificação de ter farol e pisca no mesmo ponto, que inclusive facilita a troca de uma lâmpada queimada na Parati acabou gerando outra peça para montar, que no caso é esse suporte. Engenharia de oportunidade e ou Gambiarra.

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Se olharmos pra fora do perímetro Volks, vemos que era uma tendência farol com sinaleira juntos. Belina II, Caravan e Marajó em 83 usavam esse setup, foto acima. Mais pra frente, em 1984, na Quantum a Volks seguiu o mesmo caminho e a Fiat com a Elba não foi diferente.

Parati BX

Não é nenhuma novidade. Muitos fazem essa alteração. Parati, Voyage e até mesmo no próprio Gol AP, que nunca teve, recebem o conjunto óptico do irmão menor. Porém quanto mais eu olho a caminhonete com frente do hatch aircooled mais acho que é certo. Até mesmo os vincos do capô, que não estão certos em nenhum dos dois casos, ficam melhores com a frente de faróis menores. Vejam a comparação abaixo. E depois voltem na foto do Scirroco pra ver os vincos onde estão. Passe pelas montagem da Belina, Caravan e Marajó.

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Durante a fase de projeto o Gol teve vários conjuntos de faróis. Em fotos é possível ver várias frentes, entre elas uma com faróis redondos, um par apenas, como nos Passat mais antigos. Que ficam mais bem situados em relação aos vincos do que os dois conjuntos “quadrados”. O que pode significar que pensaram seriamente em uma frente assim, estilo Golf MK1, e abandonaram já com o capô pronto. Vejam abaixo uma foto que fiz com um farol de Fusca apenas encostado bem para o canto do para lama.

O vinco acaba no lugar certo. Logo temos mais uma gambiarra, talvez a mais pesada de todas. Se trocaram o farol deveriam ter refeito o capô também.

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A cada vez que olho o carro e as fotos fico mais acostumado e confortável para dizer que é bem melhor com os faróis do Gol BX. Fica mais harmonioso, embora seja uma questão de ponto de vista. O farol redondo acho interessante quando olhado de frente, de lado não. Pelo menos não nos carros que vi até hoje. Ficaria interessante se a frente fosse um pouco menos comprida, como é a do primeiro golf, um carro menor.

Agora falta o motor Aircooled pra nossa Parati BX. Quem sabe?

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