O mundo como quintal

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(Nós não precisamos saber pra onde vamos, nós só precisamos ir/Gravataí 19 graus) E eu afastei a cortina xadrez nas mesmas cores da camisa do Grêmio, mas sem referências apenas uma coincidência, e vi aquele sol brilhando as 6 horas da manhã e pensei: caralho eu tô aqui.

Tão forte o sol que eu com aquele olho de quem recém acordou e mal pode com uma lâmpada de 60 watts, rapidamente fechei a cortininha e comecei o processo de levantar o esqueleto.

Fez muito sentido aquela história de ter o mundo como quintal.

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Acima, foto da cascata lá em Bom Jardim da Serra, Coca e a Vívian. Amplifica as sensações o fato de termos chegado lá num carro antigo, de 30 anos, uma Kombi, que eu mesmo pensei e fui reformando, a maioria das coisas com o meu suor impresso. Com ajuda indispensável do nosso mecânico (Márcio). Não é a coisa mais linda do mundo, não é a melhor Kombi, mas ela é!

Essa viagem era a estreia da cama, ela vira banco e vira cama. Sonho de consumo de todo kombeiro que quer cair na estrada. Pra que a gente não acordasse tão destruído. E devo dizer que alcançamos nossos objetivos, muito melhor e mais pratico que o inflável. Só que precisava ir até Santa Catarina, rodar 350 quilômetros e subir a quase 1500 metros de altura pra testar?

Passamos lá em dezembro de 2018, numa ida pra São Paulo. Saímos um pouco fora da rota e fomos lá ver. É um lugar incrível, difícil de explicar escrevendo. A estrada é algo muito fora do comum, considerada a mais incrível do Brasil. Poderia escrever umas dez páginas e não ia resultar em nada. São coisas que você tem que ir lá e sentir você mesmo, nem que seja pra dizer um sonoro “que bosta”.

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Não era novidade pra mim, e quando eu cheguei em São Paulo, dessa passagem, escrevi que seria muito legal fazer aquela viagem de Aircooled. A princípio pensei em fazer de Brasília, e quando começamos a pensar em ir pro Chile virou de Kombi, porque a ideia era dormir dentro dela. Se fosse de Brasília dormiria numa pousada.

Traçar uma rota, planejar e viajar em algo que eu construí ou reformei, no caso, são objetivos bem humanos. “Bóra construir um foguete e ir pra lua” saca? Guardadas as proporções era quase colocar um satélite em órbita ir para a Serra do Rio do Rastro com a Eva.

E assim como tantos foguetes da Nasa, nossa Kombi quebrou. Abaixo ainda em Torres.

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Um azar sem tamanho, a peça que falhou é uma da que tem menor incidência de quebra. Uma das molas que fica no cabeçote junto de uma válvula. Faz o motor trabalhar com um cilindro a menos e é o bastante para enfraquecer o conjunto. Paralelamente uma incrível sorte. Poderíamos ter escolhido ter uma lancha. Dá pra imaginar uma falha no meio do mar?

Dos males o menor, fiquei incrivelmente frustrado porque esse carro foi todo revisado, pensado para a estrada, com vários upgrades pra que ela não parasse onde outros poderiam parar, e uma peça nova falhou. Como antecipar algo assim? Não tem como, são coisas da estrada.

Encontramos um mecânico, com a ajuda do Gustavo Zero Dois e do PT (Estefânio). Amigos que do grupo IVC. Estávamos viajando em três carros. Ele arrumou desarrumando. Consertou uma coisa estragando outra. Mas ok. Sem saber seguimos a viagem e mais pra frente o novo estrago emergiu. Com todas as suas forças e levando novamente a Eva para um Guincho.

Segundo problema, na foto abaixo. A capa de tucho rasgou e a outra está meio torta.

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Naquele momento além de frustrado eu estava muito cansado. 12 horas de estrada, quase metade delas empenhado, estragando a minha viagem e pior, a viagem dos meus amigos. Isso era o fim. Foram meses planejando e em duas horas de viagem já estávamos quebrados. E depois de mais duas horas de estrada paramos novamente.

Ali, já em Santa Catarina, 40km do Mirante da Serra do Rio do Rastro eu pensei que era a hora de levar o carro de volta pra casa. Um morador da região gentilmente ligou para um Guincho, mas o valor foi tão abusivo que a única saída, até por honra, seria sair de lá andando com as próprias rodas. Abaixo nossa chegada no mirante. Visibilidade praticamente zero as sete da noite.

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Foi preciso levar a Eva até o topo de Santa Catarina em uma plataforma. A noite veio. Fizemos uma janta lá num frio de verão, dez graus. Joel e Zero Dois como responsáveis pela preparação. Dormimos no colchão que estreava ali, naquela condição e acordamos e voltamos para o início desse post. Onde eu falo da sensação de acordar em algum lugar.

Dia 02 de 02 de 2020. O dia primeiro de fevereiro ficou para trás, estar lá empenhado me deu um novo ânimo. Já comecei o dia trocando uma ideia com o Márcio, nosso mecânico, como fazer e o que fazer para botar o carro pra rodar. Abaixo o problema para resolver. Duas varetas tortas.

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Joel tinha que arrumar o pneu do carro dele que estava furado, Zero Dois deu a ideia da gente ir junto pra catar um mecânico. No final fomos catar as peças. A Vívian e o PT ficaram no acampamento. Ainda viajavam com a gente dois cães. A Coca e o Nimoy. No carro com o Joel estavam a Juliana e a Valentina. Mulher e filha dele. Todos aventureiros de coração.

Apesar da minha experiência não ser tão grande nessa área dos cabeçotes, era só pensar um pouco, e como falei com a ajuda do Márcio pelo whats, diretamente de Canoas, colocar mais ou menos em ordem pra rodar até onde fosse possível. E assim saímos para garimpar peças.

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Quase que milagrosamente encontramos o que precisávamos em dois lugares. Era algo tão específico em uma cidade de 4 mil habitantes. Se por um lado era improvável, ao mesmo tempo foi fácil. A cidade pequena, todos se conhecem e 99% das pessoas de extrema prestatividade. Num dado momento, o frentista do posto (único da cidade, foto acima) ligou para o mecânico e ele foi até lá nos buscar pra levar até a oficina pra ver se ele tinha as peças que faltavam. E ele tinha!!! Você consegue imaginar isso? Nem eu.

Pois bem. Voltamos para o mirante e comecei a limpar as coisas pra montar. Não foi difícil, foi escutar um pouco o que cada um tinha pra dizer (Márcio, PT, Joel, Zero Dois), organizar as ideias, fazer uma média e fechar tudo e testar. Na foto abaixo já montando tudo.

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Funcionou. E não apenas conseguimos colocar pra rodar, mas testamos indo até Bom Jardim da Serra, bem como voltamos pra casa.

Antes da volta ainda paramos, parece até que a gente sabia que a viagem seria meio estressante, numa pousada para curtir uma noite na Serra do Rio do Rastro. Uma pousada incrível ali, na beira do precipício, pertinho do Rio que da nome ao lugar todo. Quando parava o trânsito de carros dava pra ouvir o barulho do rio correndo lá embaixo. Bugio da Serra, Pousada e Restaurante. Abaixo eu, de mala e cuia, subindo para a pousada.

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O retorno foi apenas na segunda. Rodava uma hora e parava uma hora para dar um tempo pro carro. Foi tranquila a viagem, apesar de demorada. Porém… chegamos. A foto abaixo é num posto em Sombrio. A gruta cheia de santas pra abençoar. Nessas horas todo ateu acredita em qualquer coisa.

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