(Going around like a revolver/ Gravataí 32 graus)
Espero que essa seja a última parte desse relato que poucos lerão, mas que me importa muito. Principalmente quando minha memória começar a falhar como um carburador velho e sujo. No último texto saímos da praia e o link para ele está abaixo:
Quarta parte do texto está aqui:
https://fabi.blog.br/?p=2788
Temos um lapso fotográfico entre o momento que saímos da praia e chegamos ao local em que iríamos dormir de sábado para domingo, no Uruguai, em La Corinilla. Eu credito boa parte disso ao meu cansaço. Fomos também gastar dinheiro nos Free Shop. E nesse caso também há uma dissociação por conta da quantidade de informação ofertada. É muita cor, muita marca, muito preço, você se perde. Saímos da praia as 16 horas e a reunião para seguir pro Uruguai foi as 18 e pouco.
Chegamos na fronteira e vamos lá tentar entrar. Identidade, carta verde, documentos do carro e um belo sorriso do rosto. Ao chegar a minha vez percebo uma movimentação estranha por parte do Gugu, conversando com o PT (Estefânio). Gugu não havia levado a identidade dele e lá você só entra com a identidade e ela não pode ter mais do que 10 anos de expedição.
A mulher do meu guichê pediu os documentos, me entregou um formulário que eu não conseguia ler porque estava sem meus óculos de perto, depois de ter passado o dia todo com os óculos para longe. Enquanto tentava me concentrar no meu papel escutava a discussão do lado entre o Gugu e a moça deles. “Carteira profissional não serve? Eu sou profissional da saúde!!!” disse ele. A mulher só balançava a cabeça e dizia “No”.
Resumão pra não entrar muito em detalhes sordidos. Passamos todos. Quase que não.
Chegamos no “acampamento” no Uruguai as 20 horas, tendo que achar lugar pra estacionar os carros e fazer a janta. Várias Vans, todas Uruguais, estacionadas por lá. Umas três. A noite fez frio, 11 graus. Fizemos salchipão novamente. Eu e o Gustavo Bola 8 saímos pra comprar pão na cidadela que havia pouco antes.
Compramos pão, 40 reais, e uma Coca Cola que pagamos nada mais que 20 reais!!! Sim as coisas no Uruguai são muito caras. O que não faz muito sentido, uma vez que nossa moeda vale muito mais que a deles. Mas foi burrice nossa, até pelo tempo que perdemos. Poderíamos ter comprado tudo isso no Brasil e levado sem problemas. Mas lembra dos atrasos todos durante o dia? Uma hora esses atrasos fazem falta.
Abaixo um fenômeno que presenciamos por lá. A Super Lua ou Lua de Sangue. O Sol se alinha com a Lua e a atmosfera da Terra acaba dando essa coloração vermelha para o nosso satélite. A foto não faz jus ao momento.
Gugu ficou se fazendo e quem acabou produzindo o Salchipão foi o melhor cozinheiro da história do IVC. Fabiano Homônimo Maciel. Num determinado momento entrei dentro da Brasília pra responder umas mensagens, porque estava frio e eu não levei cadeira pra sentar. Perdi o contato com a torre. Dormi com o celular esmagado, não montei a cama. 4 e 30 da madruga acordei. Enrolei até as 5 e 30, quando levantei pra voltar a gravar novamente.
No vídeo eu falo mais sobre a estrutura. Link aqui.
Fiz um café pra mim, porque levei pouco café mesmo. Todos os meus mantimentos eram em quantidades pequenas pra ocupar menos espaço e pesar menos. Parece um pouco egoísta. E é. Um tempo para cada um registrar a passagem pela praia. Nem colocamos os pés na areia. Cronograma apertado. Chegou a hora de voltar tudo o que fomos em dois dias, mas em um. Nosso próximo ponto seria o Forte Santa Tereza, lá naquela praia que aparece atrás do nome LA CORONILLA da foto abaixo.
Já falei que a traseira da Brasília é para mim a mais bonita dos Volks Aircooleds? Essa com a sinaleira lisa então é ainda mais. Voltando para a estrada, saímos as 8:20 desse ponto. Quinze minutos e estávamos no forte. Um ponto precisa realmente ser ressaltado. O que andamos nas estradas do Uruguai, não foi muito, foi melhor que as melhores estradas brasileiras.
O Forte Santa Tereza é um lugar histórico para os Uruguaios. Muito bem cuidado, de uma forma que não vemos também no Brasil, ele foi palco de muitas disputas, no entanto foi construído pelos Portugueses para barrar o avanço espanhol, por volta de 1760. Mudou de mãos muitas vezes nos 90 anos seguintes até que a fronteira entre o “Brasil” e “Uruguai” fosse estabelecida como sendo o Arroio Chuí na década de 1850, onde é até hoje. Estivemos lá, na Barra do Chuí.
Fomos gentilmente convidados a nos retirar pelo exército, visto que entramos e no forte e não estava aberto, ainda que a porta estivesse. Foi ótimo ter conhecido. “Está cerrado disse o soldado” apontando para o Estefânio. Achei agressivo, Fanny tá meio acabado, mas ainda está num pedaço só.
Tem coisas que é difícil contar, como o Capivara Incident com os uruguaios, deixemos para outro texto porque daqui pra frente as coisas vão só pra trás.
Não é nada, não é nada foram quase 60 minutos no forte. Saímos de lá as 9:37. Novamente, tem vários lugares pra visitar num raio de 100km. Mas nosso tempo era curto. O Bola me perguntou umas três vezes essa questão de tempo, pra volta. Eu falava “não vamos colocar uma meta”, “tu tem compromisso amanhã?”. Agora vejam como comparação. Numa estrada como essa, onde muitas vezes o limite de velocidade era de 100km/h. Você facilmente roda os 240 do Chui até Rio Grande em 3 horas, em um carro moderno, com ar ligado, escutando uma música confortavelmente enquanto sorve água mineral vinda da garrafa Stanley.
20 pras 10 da manhã começamos o deslocamento de volta. Tá certo, tinha que dar saída do Uruguai. Todavia passamos por Rio Grande as 15:50!!!! CINCO HORAS E 20 MINUTOS. Vamos aos factos.
Ainda em solo “uruguajo” o Jonathan entrou no rádio e disse que o carro estava totalmente sem forças. Isso as 10 da manhã. Estava quente. Perto dos 30 graus. Na estrada pode colocar mais 20% de temperatura, por conta do asfalto, fumaça, óleo e um pouco de cachaça.
Assim que ele parou no acostamento, eu estava por último, Bola 8 no meio, avisei no rádio nossa posição pros dois carros da frente e fui até lá. Eles estavam começando a tirar as coisas do bagageiro. Tinha um ar condicionado e duas pranchas de surf. Porque a princípio eles achavam que o carro estava sofrendo por conta do vento, porém o problema ali é que não estava passando ar, vou deixar uma figurinha abaixo pra mostrar melhor.
Só me dei conta disso quando cheguei perto do carro e senti cheiro de queimado. Quando você sente cheiro de algo quente com a tampa fechada do motor é porque está fritando já. E era o que estava acontecendo, tanto que eu nem consegui tirar a vareta do óleo de tão quente. Ficamos um pouco parados ali, perguntei se haviam verificado o óleo, peguei parte do ar condicionado botei no meu carro, Bola 8 pegou outra coisa e andamos até a fronteira. Dava uns 30km.
Chegando lá revimos a situação e uma vez óleo frito, só tem uma coisa a ser feita. Trocar. Quando você queima o óleo da batata frita não tem outra solução, ou todas as batatinhas vão ficar com gosto de queimado. Minha sugestão era trocar o óleo no posto de gasolina que iríamos parar no Chuí, já no Brasil e andar de boa sem puxar muito ou exigir do motor, o que naquela região não é difícil, visto que são 250km no plano.
Nesse meio tempo tivemos outro problema bem sério. A Genoveva começou a vazar óleo pelo retentor do virabrequim. Entre a caixa e o motor. Foi ali perto do Taim. Pelas minhas contas vazava tudo a cada 50km. Não vou discutir as escolhas de cada um a cada momento, porque embora a viagem seja em comboio a responsabilidade por cada carro é de cada motorista. Ou mulher do motorista se ela estiver junto. Quando verificar o óleo, quando abastecer, calibrar pneus, são todas decisões individuais.
A reflexão que fica é: por que devem ser individuais se as consequências são para o grupo? Interessante. Não é visando condenar ninguém, é só para que paremos um momento para pensar.
Nenhuma foto desse retorno porque ele estava sendo bem complicado. E foi até o final. Tivemos que parar em Pelotas para finalmente trocar o óleo do Fusca do Jonathan, depois de duas oportunidades em que isso poderia ter sido feito. O PT foi fazendo uma viagem intermitente a cada 50km parando para completar o lubrificante. Foram mais de 20 litros de óleo consumidos.
Eu cheguei em casa as 23:30. Rodando de volta foram praticamente 14 horas de viagem. Mais uma vez pra comparar, eu levo esse tempo para ir de Gravataí até São Paulo (1200km), fazendo quatro paradas para abastecer, esticar as pernas e comer. É possível e já fiz em 12 horas. Óbvio que não de Brasília, muito menos de dia.
É claro que todos nós estamos sujeitos as quebras e isso faz parte do jogo. O que fica de aprendizado, pelo menos pra mim, é que precisávamos de mais um dia de viagem, tanto para aproveitar melhor o tempo que tivemos no Uruguai, quanto para retornar com mais calma. Com um quarto dia poderíamos sair descansados as 6 da manhã e rodar durante o dia, que é mais seguro.
Com mais tempo, descansado você tende a pensar melhor e tomar melhores decisões. Esse pernoite a mais poderia ser ainda para corrigir algum problema nos carros. No final de tudo é fácil falar, só que foi uma baita viagem, faria novamente com toda tranquilidade, até em 3 dias novamente. Se tivesse sido ruim eu não teria escrito nada.
Que venha a próxima!!! Bóra!